quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Um pouquinho de poesia para quebrar a monotonia... li, gostei, me identifiquei e vim dividir com vocês....

Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.


Fernando Pessoa

A viagem....


          Era domingo de carnaval e eu estava no Aeroporto Internacional do Galeão, onde eu ia pela primeira vez, depois de uma noite sem dormir, pois eu havia passado a noite em claro no hospital. Quase tive que adiar minha ida a Salvador na madrugada de sábado para domingo, quando estava com tudo pronto para partir, pois meu filho caçula tomou um porre no carnaval e foi parar no hospital. Mas ele ficou bem e eu consegui viajar. Primeiro, peguei um ônibus para o Rio de Janeiro, e depois, um táxi para o aeroporto. E lá estava eu, ansiosa, esperando a minha vez de “voar”.
Eu estava morrendo de medo. Tenho pânico de altura e voar era algo que eu jamais cogitei fazer, ainda mais sozinha. Mas o amor, você sabe, tem razões que a própria razão desconhece. Eu entraria naquele avião e voaria para os braços daquele homem que havia virado a minha cabeça, nem que fosse a última coisa que eu fizesse na minha vida! Minha determinação me levou e eu estava lá, há 3 horas de encontrá-lo.... era demais!!!!!
Resolvi tomar um cervejinha para relaxar. Precisava me acalmar... sonhei e desejei muito fumar um cigarro. Me deixaria bem mais calma..... fiquei ali imaginando o prazer que um cigarrinho poderia me proporcionar naquele momento, mas não tive coragem de comprar. Afinal, eu havia prometido ao meu amor que não fumaria mais. Eu já não fumava há mais de um mês. E além do mas, eu não poderia chegar perto dele com cheiro de cigarro e, dali a 2 horas e 50 minutos, eu estaria com ele!!!!! Um frio me percorreu a espinha.... uma cólica na barriga, bem abaixo, me fez curvar.... as emoções eram demais.... muita intensidade em tudo que eu sentia.... eu estava enlouquecendo!!!!!!!
Chegou o momento do embarque. Liguei para os meus filhos, avisando que eu iria embarcar e que assim que pousasse em Salvador, telefonaria para avisar que estava bem. Depois liguei para Theo. Eu estava preocupada e também com medo. Ele iria me esperar no aeroporto, mas muita coisa passou pela minha cabeça:
_E se ele não aparecesse?
_E se ele não gostasse de mim?
_E se o avião cair????? (ao pensar isso, eu rezei.... orei a Deus e pedi que se fosse a minha hora de morrer, que o avião caísse na volta, não na ida! Eu precisava estar com Theo!)
Com tanta loucura na minha cabeça, pedi a Theo que não se atrasasse, pois eu me sentia insegura e esperava que ele estivesse no aeroporto quando eu chegasse... mas ele me surpreendeu quando disse:
_Amor, eu já estou no aeroporto! Nem dormi direito essa noite de tanta ansiedade por estar com você. Agora só faltam duas horas.
_ Estou nervosa e com medo... Como eu vou encontrar você?
_Ora, eu estarei no desembarque te esperando.
_Mas será que vamos nos reconhecer?
_Ahh!!! Para com isso amor!! A gente se vê todos os dias na webcam. Você acha que não vamos nos reconhecer? Mas para você se sentir mais segura, eu estou de camisa vermelha, tá!
_ E eu estou de calça pescador preta e blusa tomara-que-caia preta com verde.
_ Eu te reconheço em qualquer lugar. Não precisava me falar a sua roupa. Vamos fazer o seguinte... Eu acredito no destino... Se for nosso destino ficarmos juntos, claro que vamos nos reconhecer imediatamente! Então deixe que o destino se encarregue disso.
          Era a maneira mais imbecil que Theo tinha encontrado para me dizer que o destino, ele já havia planejado e manipulado a seu favor... mas eu não enxergava isso... eu acreditava em Theo e em tudo o que ele me dizia e para mim, tudo era AMOR.... PAIXÃO.... DESTINO!!!
          Senti muito medo quando o avião decolou. Juro por tudo que há de mais sagrado neste mundo que naquele momento, eu tinha certeza de que minha vida havia acabado ali. Me subiu um frio/quente/gelado/dolorido pela barriga quando o avião levantou vôo e quando eu olhei pela janela(porque por mais que eu tenha medo, se eu iria voar, então faria a coisa completa e iria olhar pela janela) e vi toda a cidade ficando lá embaixo e eu subindo cada vez mais, pensei: PRONTO, ACABOU! NADA DE THEO, DE SEXO, DE AMOR! VOU MORRER!!!!
E tive muita vontade de gritar e pedir socorro! Me deu vontade de chamar a minha mãe! Me deu vontade de chorar..... Só não me deu vontade de voltar atrás... Isso NUNCA! JAMAIS! Passaria por qualquer sufoco desse mundo, mas jamais voltaria atrás!
Mas a morte não chegou, por mais incrível que possa parecer....
O avião continuou sua viagem silenciosa pelo ar enquanto eu tentava acelerar o relógio, rezando e pedindo a Deus que essas duas horas passassem mais rápido. Eu não agüentava mais estar ali dentro e o medo, me fez manter o celular desligado mesmo depois dos comissários de bordo terem avisado que ele deveria permanecer desligado apenas no pouso e na decolagem. Então eu não tinha com quem falar.... Não tinha nem um livro na mão para poder fazer aquilo que eu mais amo...ler!
Minha inexperiência me fez passar por esses momentos tensos .... Não abri a boca nem para pedir água à comissária de bordo. Preferi ficar com sede a me expor e deixar que ela percebesse que eu estava nervosa e que era a minha primeira vez ali... aliás, primeira vez em quase tudo: Primeira vez que eu voava... primeira vez em Salvador... primeira vez com Theo!!!
Foram as duas horas mais longas da minha vida, mas finalmente as duas horas passaram e o piloto avisou que estávamos sobrevoando a cidade, que o tempo estava bom e que iríamos pousar no Aeroporto Internacional de Salvador em alguns minutos.
Olhei pela janela e vi Salvador.... Uma bela imagem, num dia lindo de sol.... Era emocionante demais viver tudo aquilo. Eu estava voando, sobrevoando aquela cidade com a qual eu sonhava durante quatro longos meses.... E lá embaixo, me esperando, estava o grande amor da minha vida...Theo!

Mais tensão, mais medo.... o pouso foi muito desagradável... achei que o piloto não ia conseguir parar o avião... eu já estava doente com um negativismo gritando em meus ouvidos... mas o avião pousou, parou e, após arrumar bem os cabelos, passar lápis nos olhos, batom nos lábios, perfume no pescoço e estar radiante, eu desembarquei rumo ao relacionamento que mudaria a minha vida para sempre!!!!!!
          Eu estava muito nervosa....muito ansiosa.... nada poderia me acalmar ou me ajudar naquele momento. Eu estava com muitos pensamentos negativos rondando a minha cabeça. Só pensava que Theo poderia não estar me esperando. Pensava que ele poderia não gostar de mim quando me visse pessoalmente. Enfim, eu só pensava coisas ruins. Isso não me ajudava em nada. Ao contrário, só me deixava ainda mais nervosa.
          Tive problemas para pegar a mala. Não sabia ao certo o que fazer, então observei as pessoas que pegavam suas malas na esteira e fui fazer o mesmo. Na primeira vez, ela passou e eu fiquei olhando.... achei que ela voltaria logo, mas demorou.... Na segunda vez, tentei pegá-la, mas ela estava tão pesada que eu não consegui. ... Teria que esperar mais uma volta daquela esteira infinita até que ela aparecesse de novo, mas ela apareceu....  E lá vinha ela.... minha mala!!!!! Dessa vez eu a pegaria... E peguei! Pronto! Agora era com o destino!
          O aeroporto tinha saída para os dois lados. Lembrei das palavras de Theo. “Deixe que o destino resolva por nós!” Então eu pensei.... vou sair para o lado que meu coração mandar.... se Theo estiver do outro lado, é porque não era para ser.... passaremos o carnaval juntos, ou não, e eu voltarei para a minha cidade e guardarei os momentos na lembrança...
Mas se eu escolher o mesmo lado que Theo, é porque o destino estará agindo.... Ele deve ser realmente, a minha alma gêmea!!!
Pensando assim, saí pelo lado esquerdo da porta.... o lado do coração.... e olhei, temerosa, para o final do corredor..... E como se fosse uma miragem.... um sonho...algo inacreditável.... uma utopia.... estava lá, aquele negro de camisa vermelha, olhos ansiosos me procurando, que, ao encontrar os meus, se reconheceram, como ele havia dito antes... como mágica.... MAKTUB! DESTINO!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Emoção...Marina...pura emoção....



          
          Meu trabalho na escola me ajudava a encontrar forças para controlar a ansiedade e a loucura por estar com Theo. Adoro crianças e elas conseguem me acalmar, me deixar feliz e em paz.... Como eu me sentia realizada no trabalho, isso refletia na minha vida e eu estava vivendo o auge dos meus melhores momentos de vida: apaixonada, trabalhando numa escola que eu adorava, fazendo aquilo que eu mais amo que é lecionar, me sentia bonita, amada, desejada e para a minha felicidade ser completa, só faltava o encontro com meu grande amor!
          Eu havia comprado as passagens para a minha viagem e contava os dias, literalmente, para poder viajar logo. Nunca chegava o carnaval. Eu estava vendo a hora de chegar a Páscoa sem que começasse o carnaval, de tão ansiosa que eu vivia.
          Theo fazia a contagem regressiva. Todos os dias ele falava:
_ Amor... faltam só 19 dias....
_ Amor, faltam só 14 dias....
_ Amor, faltam só 7 dias.... e assim por diante, até a véspera da minha viagem.
          Pulei carnaval na sexta-feira... saí com meus amigos em um bloco famoso em nossa cidade. Eu estava feliz!!! Radiante de felicidade!!!! Faltavam apenas 2 dias para a tão esperada viagem!
          Nas fotos, minha felicidade era visível! Sorriso lindo, branco, brilhante! Um belo sorriso de mulher apaixonada, que durou tanto tempo quanto durou a minha ilusão...
          Meus olhos verdes pareciam ainda mais verdes, brilhantes de felicidade, aguardando ansiosos o momento de pousar sobre o olhar do meu grande amor... Minhas mãos, com as unhas pintadas de vermelho como ele gostava, tremiam, úmidas, ansiando o momento de tocá-lo... Meu pequeno nariz inspirava desesperado pelo cheiro do homem da minha vida.... meus ouvidos pareciam se abrir, aguardando pela voz doce e o sotaque encantador daquele povo que “fala cantando e anda dançando”... Meus lábios carnudos, vermelhos com as misturas dos vários batons que experimentei até achar o “perfeito” para o momento, secavam, umideciam e secavam de novo, deseperados, ansiosos, sedentos por aquela boca quente, máscula, negra, que com seu beijo ardente, selaria para sempre o nosso encontro.... marcando o início real do nosso amor virtual. Era muita tensão... Muita ansiedade... Muita sede de amor!!!!!
          Todos os sentidos funcionavam enlouquecidos pela paixão... como uma gata no cio, eu imaginava tudo que eu faria com ele na cama.... Imaginava o primeiro olhar, o primeiro toque, o cheiro, o gosto.... Fantasiava mil loucuras... quase dez anos sem ser tocada por um homem... Sentia medo e ao mesmo tempo, euforia, tesão! Emoções cruzadas, paralelas, trocadas, emaranhadas....
          Se eu fosse desenhar minhas emoções neste dia, desenharia um novelo de lã vermelho com laranja, se transformando numa cama de gato, sendo desfeita por mãos       negras e másculas e se transformando em um vulcão que surge e imediatamente entra em erupção, jorrando lavas para todos os lados, como se fossem fogos de artifícios explodindo no céu estrelado e iluminado pela lua.......Esse seria o retrato da minha emoção!
          E o sabor?? O cheiro??
Minha emoção tinha gosto de morango com creme de leite e um pouquinho de creme de chocolate... o vermelho, o branco e o preto.... PERFEITO!!!!! Nem doce nem amargo.... PERFEITO!!! Excitante....
Minha emoção tinha cheiro de verão.... cheiro de mar .... cheiro de vento.... de liberdade, entende???? Minha emoção tinha cheiro, sabor, forma e tudo o mais porque foram os sentimentos mais reais da minha vida!!!!!!!!!!!!!!!!

domingo, 26 de setembro de 2010

Quando os olhos cegam

          Filha de baiano, tenho parentes em Valença e, quando meu pai morreu, deixou um terreno que jamais nos preocupamos em procurar, vender, doar ou qualquer coisa parecida. Mas nesse momento, o terreno que meu pai havia deixado de herança, era tudo que eu queria! Afinal, se eu fosse à Valença, eu iria encontrar o meu amor! Plano perfeito! Pedi ajuda ao meu filho Paulo e tudo começou a tomar forma!
          Meu filho concordou com a minha ida a Bahia e disse que me ajudaria. Não menti pra ele. Contei a verdade sobre Theo. Acho que ele até gostou, afinal, eu estaria me relacionando com um homem! Morena ainda vivia em minha casa, mas desde que eu havia me apaixonado pelo Theo, não havia mais nada entre nós. Antes, a relação já estava desgastada. Mas agora, com o amor gritando em meus poros, não havia a menor possibilidade de eu voltar atrás. Eu já havia dito a Morena que o melhor era cada uma ir para o seu lado. Mas ela resistia e fazia de tudo para me reconquistar. Talvez não tenha feito o suficiente. Talvez, nada que ela tivesse feito, mudaria minha decisão. Isso eu jamais saberei. Só posso dizer que, de uma forma muito desagradável, Morena foi embora.
          Morena havia colocado um espião em meu computador e eu nem sonhava com isso. Ela lia todas as minhas conversas com Theo. Sabia de tudo! Dos nossos planos, nossas juras de amor, nosso sexo virtual. Ela sofria calada na esperança de conseguir me reconquistar. Mas um dia, depois de passar o dia todo bebendo, Morena chegou em casa e me viu no computador, jogando, e achou que eu estava com o Theo. Na verdade, eu estava jogando com pessoas desconhecidas. Theo não estava on line nesta noite! Mas ela não acreditou, brigamos, ela me agrediu, bateu em meu rosto, quebrou meu dente.... e assim terminou nossa relação. Com uma cena horrorosa de agressão, dor, sofrimento e tristeza!
          Estávamos em janeiro. Havia três meses que eu e Theo nos conhecíamos e nos falávamos todos os dias. Nossos planos de eu ir a Bahia foram por água abaixo quando eu consegui um emprego. Fui chamada para lecionar em uma escola. Fiquei muito feliz! Mas ao mesmo tempo, fiquei triste, pois eu e meu filho Paulo, já havíamos planejado nossa viagem para Salvador e eu não via a hora de poder estar pessoalmente com meu amor!
          Comecei a trabalhar, mas não perdi de vista meu objetivo. Eu havia decido que iria conhecer esse homem pessoalmente e nada nem ninguém mudaria a minha cabeça.
          Theo me disse que estava procurando uma casa para alugar. Disse que até o dia de eu ir a Salvador, ele pretendia já estar morando em outra casa, sozinho, sem o “amigo” com quem ele morava. Antes, ele havia dito que ele não poderia me receber na casa dele porque ele morava com um “amigo” e o combinado entre eles era não levar nenhuma mulher para a casa deles, para que não virasse bagunça.
          Eu disse a ele que não se preocupasse, pois eu ficaria hospedada em um hotel. Assim, nossos planos começavam a tomar cor. Eu havia descoberto uma maneira de ir a Salvador, mesmo estando trabalhando: eu iria no carnaval!
          Mas bem antes do carnaval, estávamos no MSN, como sempre na webcam, à noite, conversando, jogando, namorando.... quando de repente, passa uma mulher atrás de Theo. Uma mulher totalmente descabelada, feia, muito gorda. Ela levantou-se não sei de onde e passou atrás dele. . .  seguindo em direção à escada e descendo. Me assustei! Imediatamente perguntei a ele quem era aquela mulher:
 _ Que mulher, rapaz? (eu odiava esse jeito que os baianos têm de nos tratar. Não gostava quando ele me chamava de rapaz e já havia dito isso a ele, mas era costume do povo de lá. Acabei entendendo)
_Passou uma mulher toda descabelada atrás de você, amor!
_Ah, sim.... Era a namorada do meu amigo. Por isso que eu estou saindo daqui. Porque a gente combinou uma coisa e ele não está cumprindo.
          Mulher apaixonada acredita até em coelhinho da Páscoa! E como eu jamais poderia fugir à regra, acreditei!
          Theo começou a procurar uma casa para alugar. Disse que ia alugar e arrumar a casa antes do carnaval, para que eu pudesse ficar hospedada na casa dele. Minha alegria não poderia ser maior, mas eu não dizia isso a ele. Eu dizia a ele que eu queria passar a primeira noite em um hotel e que depois, eu até poderia ficar na casa dele.  Então ele alugou a casa, finalmente! Disse que ia pintar antes de eu viajar, pois queria me dar algum conforto. Disse também que ele não tinha nada. Teria que comprar os móveis para a casa pois quando ele foi morar com o “amigo”, ele só levou o computador e a TV. O resto era do “amigo” dele.
          Comecei a me preparar para a viagem. Olhava o preço das passagens todos os dias. Tentando encontrar o melhor preço para poder comprar. Queria estar linda para o meu amor. Comecei a fazer dieta e a caminhar. Voltei a freqüentar a hidroginástica. Fiz um orçamento no dentista e comecei um tratamento dentário relâmpago! Parei de fumar! Fiz clareamento nos dentes! Cuidei dos cabelos, das unhas, sobrancelhas. Fui à praia mil vezes para pegar um bronze e, outras vezes, me queimava no quintal. Eu precisava ficar morena! Deu certo! Fiquei linda! Auto estima lá em cima, estava feliz demais! Não via a hora de estar nos braços daquele homem!
          Enquanto o dia não chegava, eu ouvia as músicas de Maria Rita e sonhava acordada, imaginando nós dois em suas cantigas....
“ ... SE ESTIVER ACOMPANHADO ESQUECE E VEM! SE TIVER HORA MARCADA, ESQUECE E VEM! VENHA VER A MADRUGADA E O SOL QUE VEM! QUE ESSA NOITE NÃO É NADA MEU BEM”...
“... FUI A PÉ A SALVADOR, DE JOELHO AO REDENTOR, PRA VER NOSSO AMOR ABENÇOADO.... NESSA ONDA DE CALOR, EU ATÉ PEGUEI UMA COR, TO COM O CORPO TODO BRONZEADO...”
          Passei a sonhar ao som de “Silvano Sales, o cantor apaixonado”, de quem eu jamais ouvira falar antes, mas que o meu amor me mandou. Ele cantava umas músicas bregas, tipo sertanejas, que até então, eu ODIAVA! Mas é aquela velha história da paixão que nos cega e nos faz fazer coisas que jamais imaginávamos. E lá estava eu, cantando essas músicas tão bregas, que meus amigos estranhavam e, nas poucas vezes em que eles vinham a minha casa, pois a esta altura eu não tinha mais tempo para eles, eles achavam que eu estava enlouquecendo! E estava! Mas eu não sabia!

Ilusões....

   A doença me iludia os olhos. A minha e a dele. Ele, um psicopata, era incapaz de amar. Portanto, eu jamais poderia ter enxergado esse sentimento em seu olhar. Mas um psicopata tem um dom nato para enganar e iludir as pessoas e o Theo não foge às regras. Ele sabia exatamente como fingir o sentimento, a emoção.... pelo menos virtualmente.
         Eu, uma mulher que estava deixando de lado todo e qualquer sentimento de amor próprio para dedicar tudo de bom que existia em mim a um desconhecido, doente e aproveitador. Ele estava começando a dominar a minha vida, mesmo sem que eu percebesse.
         Sua primeira atitude dominadora, foi exigir que eu parasse de fumar. Ele dizia que jamais se envolveria com uma mulher que “cheirasse a cigarro”. Então prometi a ele que não fumaria mais. Mas eu fumava... fumava escondido dele. Afinal, ele não poderia sentir mesmo o meu cheiro estando tão longe de mim. Mas ele era esperto e todas as vezes que estávamos no MSN, ele ouvia eu tossir e perguntava se eu estava fumando. Perguntava ao meu filho Leo se eu fumava, pois a essa altura, os dois já se conheciam pelo MSN. Eu implorava a Leo para mentir, pois eu não podia perder o meu amor por causa de um maço de Free...
          Depois ele disse que gostava de mulheres de cabelos compridos. Pediu que eu deixasse meu cabelo crescer. Disse que se eu cortasse, eu ia ver uma coisa.... Então eu, curiosa, perguntava o que ele faria. Ele dizia que eu ficaria “sem sexo, sem beijo, sem nada” até que meu cabelo crescesse novamente. E lá estava eu, lutando para que meu cabelo, que sempre foi curto, atingisse um comprimento pelo menos satisfatório para ele.
          Quando eu falava da minha dieta, ele dizia que não gostava de mulheres magras. Que eu podia emagrecer sim, mas muito não... Eu era uma tola apaixonada e acreditava em tudo que ele falava... Na verdade, ele queria a mulher dele gorda e as outras, podiam ser de qualquer jeito. Como eu dizia, ele jamais teve padrão.
          Um dia ele me disse como gostaria de ser tratado. Disse que queria uma mulher que, além de fazer “tudo” na cama, tratasse ele com carinho, fizesse tudo por ele, como por exemplo, trazer o chinelo quando ele chegasse da rua, colocasse sua comida, levasse seu café na cama, fizesse massagem nele, etc. Tudo que uma “verdadeira mulher” devia fazer pelo seu homem!
          E lá estava eu, sonhando com a vida de Amélia... Esperando ansiosa pelo dia de poder fazer com ele, tudo que ele esperava de uma mulher e tudo que ele esperava, era exatamente tudo que eu sonhava fazer pelo meu grande amor(esse era mais um sintoma da minha doença, pois se tem algo que eu nunca tive, foi perfil de Amélia. Independente desde antes da maior idade, jamais me curvei diante de homem algum... mas já estava curvada... com a cabeça no chão, em reverência àquele que seria o meu amo para sempre.... quanta ilusão!!!! ).
          Nossos papos iam ficando, ao mesmo tempo quentes e sérios, pois fazíamos planos para o futuro, mesmo antes de nos vermos pessoalmente ou pela webcam. Planejávamos sua vinda ao Rio e minha ida a Salvador. Mas nenhum dos dois sabia como fazer isso. Eu jamais havia voado e ele também não. Eu não tinha dinheiro e ele também não. Mas ele nem sonhava com isso!
          Um dia, ele disse que se eu e a Cris, nossa amiga virtual a quem ele chamava de irmã, pagássemos a passagem dele, ele viria ao Rio para nos conhecer. Nem percebi seu interesse em vir para o Rio. Enxergava somente o imenso amor que sentíamos um pelo outro. Enxergava somente o que meu coração doente queria ver. E assim, comecei a planejar, articular, pensar em uma maneira de ir ou de trazer ele até mim. 
          Eu sou o tipo de pessoa que quando quero alguma coisa, sou capaz de fazer tudo para conseguir. E eu queria muito estar com o Theo. Faria, como fiz, tudo e qualquer coisa para conseguir estar com ele....

sábado, 25 de setembro de 2010

Finalmente nos olhamos....


          Minha cabeça fervia.... um misto de medo, emoção e desejo. Eu queria muito poder estar com ele pessoalmente, mas ao mesmo tempo, tinha medo de ele não gostar de mim quando me visse pela webcam e assim, eu não ter a chance de conhecê-lo de verdade. Eu estava numa situação horrível!!! Chorei arrependida por nunca mais ter me preocupado em emagrecer. Chorei por ter fumado durante 22 anos e por isso, ter os dentes amarelados. Chorei por não ter dinheiro para ir ao salão fazer meu cabelo para que ele ficasse mais bonito para o meu amor. Chorei todos os arrependimentos que eu tinha por não ter uma aparência `a altura do homem por quem eu havia me apaixonado.... Esses eram os primeiros sinais da “doença” que me acometia, mas que eu também não percebia. Não sabia. Não notava e só iria conseguir enxergá-la, muito tempo depois, quando eu já havia perdido tudo: o amor próprio, a auto-estima, os valores, a alegria, as razões para viver e as forças para lutar! Isso eu te contarei adiante!
          Enquanto eu não conseguia comprar minha webcam, meu amigo Igor disse que me emprestaria o notebook, mas nunca dava! Eu estava ficando cada vez mais ansiosa. Ao mesmo tempo em que eu queria que ele me visse também, eu sentia medo de ele perder o interesse, mas sabia que mais cedo ou mais tarde, íamos nos olhar cara a cara. Isso seria inevitável se eu quisesse viver esse amor. Então eu finalmente consegui o notebook do Igor emprestado!
          Avisei ao Theo que eu havia conseguido o notebook. Por esta ocasião, nós já nos falávamos todos os dias no MSN e algumas vezes ao telefone. Um dia ele me ligou e eu fiquei louca de felicidade, afinal, apesar de não ter dinheiro(era o que eu pensava) ele havia feito um sacrifício e havia me ligado. Isso era o máximo!
Depois da primeira ligação dele, eu passei a colocar crédito no meu celular e no dele, para que ele me ligasse quando sentisse vontade. Cometi meu primeiro erro com essa atitude. O primeiro de muitos outros que viriam em seguida. Mas eu estava completamente cega de amor a essa altura.
          Passei o dia contando as horas para que Morena fosse logo trabalhar. Eu precisava ver meu amor e ele iria me ver pela primeira vez!! Nossa!!! Eu estava muito nervosa!
          Finalmente a hora chegou!  Arrumei os cabelos mil vezes, passei um bom batom, passei lápis nos olhos para que sobressaíssem meus lindos olhos verdes, passei perfume(como se ele pudesse sentir meu cheiro, mas à essa altura a loucura já era total, tente entender....), coloquei uma blusa bem sexy, tomei coragem e enviei o convite da webcam!
         Ficamos esperando abrir a imagem e quando abriu, estampou-se imediatamente, dois sorrisos brilhantes na tela do computador... eu e Theo... olhando um para o outro, como se fôssemos duas miragens.... Eu, ansiosa para ver em seus olhos a reação ao me ver... tentando enxergar através daquela tela de LCD algum sentimento positivo. E é claro, eu enxerguei! Vi a paixão dele por mim! A alegria em me ver pela primeira vez! A emoção ao estar de frente para o grande amor virtual que logo se tornaria real! Vi tudo isso naquele momento.... um momento mágico! Louco! Lindo!
          Ficamos nos olhando sem dizer nada um para o outro... Só olhando e sorrindo.... Até que, depois de alguns minutos, falamos, juntinhos, como se tivéssemos ensaiado para a filmagem de uma cena de amor de cinema:
_ EU TE AMO!
          Sorrimos! Chorei! Foi muito emocionante!
          Não poderei encontrar palavras para descrever esse momento mágico da minha vida! E, mais uma vez, atribuí às “mãos de Deus” o ocorrido. Afinal, como poderia uma coisa dessas??? Falamos juntinhos um EU TE AMO cheio de emoção e desejo.  Isso só poderia ocorrer com a minha alma gêmea... minha cara metade... meu grande amor!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

AMOR VIRTUAL

        
Ao mesmo tempo em que minha situação com Morena ficava a cada dia pior, meu “namoro virtual” esquentava diariamente. Passamos a falar de sexo e isso me excitava demais! Comecei a imaginar como seria fazer amor com aquele homem, por quem eu sentia um turbilhão de emoções, desejo e um imenso carinho, mesmo antes de sentir seu cheiro, seu sabor, seu toque.... Eu o desejava demais!!
          Nossa conversas começaram a ficar muito picantes. Ele dizia o que queria fazer comigo na cama. Eu complementava com minhas fantasias e desejo reprimido por quase dez anos. Eu imaginava lua língua percorrendo meu corpo, suas mãos me tocando nas partes mais íntimas, carícias maravilhosas e intensas, verdadeiras, quentes,  o sexo acontecendo em sua plenitude! Desejava ardentemente aquele momento!
          Um dia, Theo perguntou se eu queria vê-lo nú. Até então, nos víamos apenas por fotografias. Eu fiquei imaginando como seria seu corpo nu, e, logicamente, disse que sim! Então ele me mandou uma fotografia. Totalmente pelado, mas aparecia apenas seu corpo negro, não aparecia seu rosto. Eu me deliciei com aquela imagem do homem por quem eu sentia um desejo profundo, completamente nu... Nossa! Foi estonteante olhar aquele corpo másculo, forte, definido, malhado e para melhorar, negro! Era tudo que eu queria!
          Trocamos telefones e um dia eu resolvi ligar. Recebi meu pagamento, coloquei crédito no celular e liguei para ele. Lembro-me como se fosse hoje.... meu coração disparava... minhas pernas tremiam... eu ia falar com ele ao telefone... seria nossa primeira aproximação real. Eu havia dito a ele que lhe faria uma surpresa naquele dia, mas não falei o que era. Então, com as mãos trêmulas, eu disquei seu número e do outro lado da linha, aquela voz masculina, com um sotaque bahiano carregado:
_ Alô! Quem ta falando?
_ Não imagina quem é?
_ Oi amor! Nem acredito que você está me ligando! Bem que você disse que ia me fazer uma surpresa!
_ Nossa! Como é lindo o esse sotaque bahiano!!! Rsrsrsrss
_ Você é que tem um lindo jeito de falar! Você ta onde?
_ Estou na rua. Vim colocar crédito no celular só para poder ligar para você.
_ Eu também tenho uma surpresa para você! Que horas você vai estar em casa?
_ Daqui a pouco. Umas 18 horas mais ou menos. Que surpresa que é? Fala porque eu sou muito curiosa!
_ Não! Surpresa é surpresa! Quando você chegar em casa liga o computador, amor. Vou estar te esperando.
_ Tá bom! Vou desligar porque meu crédito está acabando.
_Adorei falar com você! Adorei ouvir sua voz!
_ Eu também!
_Assim que der, eu te ligo também, tá!
_ Ta bom! Um beijo! Até mais tarde!
_ Beijos meu amor!
          Meu primeiro contato “quase real”. Fiquei eufórica! Tentava adivinhar que surpresa ele teria pra mim e ao mesmo tempo, aquela voz inesquecível, com aquele sotaque bahiano, não saía da minha cabeça.
          Cheguei em casa eufórica! Fui direto para o computador, como sempre, e liguei o MSN torcendo para que ele já estivesse on line. Mas ele não estava. Esperei contando os segundos.... o tempo não passava... as horas, os minutos, se arrastavam infinitamente.... Finalmente ele entrou! Meu coração disparava todas as vezes que eu escutava o barulhinho do MSN anunciando a entrada de alguém on line e nesse momento, era ele! O meu amor!
_ Oi minha Flor! Como você está?
_ Estou bem, mas muito curiosa. Que surpresa você tem para mim?
_ Espera.... aceita...
_ Aceitar o que?
_ Clica em aceitar
_ ok
          Nossa! Quase morri do coração! Ao clicar em ACEITAR, entrou a webcam e logo apareceu na minha frente a imagem daquele homem que até então, não passava de uma forma imaginada pela minha mente fértil e apaixonada. Mas lá estava ele... sorrindo .... na tela do meu computador! Ele acenava e mandava beijos... sorria....
          Do outro lado estava eu... com lágrimas nos olhos.... e um sorriso de orelha a orelha... olhando para o homem que iria desgraçar a minha vida de uma maneira quase irrecuperável! Mas eu ainda não sabia disso! Estava então apaixonada! Louca de amor por aquele desconhecido! Feliz da vida por poder vê-lo! Achando que tudo aquilo era um sonho....
          Ao mesmo tempo em que eu fiquei muito feliz, vi que ele não era exatamente como eu imaginava e como eu havia visto nas fotos. Ele usava um bigode e o bigode o deixava um pouco mais velho do que ele era realmente. Mas isso era um mero detalhe! Pude perceber também o quanto humilde era a casa onde ele morava. Outro detalhe que, para mim, não tinha a mínima importância. Mas eu estava eufórica e olhava cada detalhe daquele homem e de tudo o que dizia respeito a ele. Eu já havia procurado seu nome no Google, pesquisava tudo sobre ele. Sabia de alguns detalhes como por exemplo, num site de relacionamentos ele havia colocado no seu perfil uma frase que dizia exatamente o que ele queria:
“PROCURO UMA MULHER QUE SEJA DESINIBIDA SEXUALMENTE”
          Ora! Eu era desinibida sexualmete.... pelo menos quando eu era magrinha, né!!! Naquele momento, eu já nem sabia ao certo quem eu era. Tinha um corpo que não parecia ser meu. Gorda. Eu me via magra. Não percebia direito o quanto estava gorda, somente em algumas ocasiões especiais, como por exemplo, quando eu ia comprar uma calça jeans, pois era difícil encontrar uma que coubesse em mim.... ainda tinha a cabeça do corpo nº 38, mas estava usando uma calça nº 50 e nem percebia ao certo o que significava essa diferença. A outra ocasião, era quando tirava fotografias. Procurava aparecer somente de rosto nas fotos, pois quando aparecia o corpo inteiro, não parecia ser eu! Eu jamais me enxerguei exatamente como estava: MUITO GORDA!
          E o meu amor também não sabia. Ele sabia que eu era gorda, mas só havia visto minhas fotos de rosto. Um rostinho bonito que não aparentava os 40 anos de idade. Ele me achava bonita e isso me bastava! Eu passei horas ali olhando para aquele homem, apaixonada, louca pare poder estar com ele pessoalmente e para dizer a ele, olhando nos seus olhos, o quanto eu o desejava e o quanto queria seu bem!
          Este dia marcou a minha vida! Eu adorei a surpresa e a tudo, eu atribuía às “mãos de Deus”:
_Amor, você é lindo!!!!! (Pronto! Isso é a glória para ele! Seu superego se eleva e se supera quando ele é elogiado, pois ele se adora e se acha o cara mais interessante, gostoso e poderoso da Bahia, pois até então, A Bahia era a sua fronteira! Era tudo que ele conhecia)
_ Obrigada amor! Você que é linda!
_ Por que só hoje eu pude te ver na cam?
_ Vixe! Você acredita que nem eu sabia que eu tinha webcam? Hoje, mexendo no meu celular, descobri essa função nele e resolvi testar. E funcionou! Meu celular é muito moderno. Tem TV, webcam, Blootooth, etc. Mas nem eu sabia dessa webcam. Gostou da surpresa?
_Claro amor! Eu adorei! Você nem imagina o quanto!
_Agora quero saber quando eu vou poder te ver.
_ Eu vou dar um jeito de comprar uma webcam pra mim. É muito caro?
_Não. Aqui é baratinho. E na internet você encontra umas baratinhas também. Procura no Google que você acha.
_ Vou procurar, mas enquanto eu não compro a minha, vou pedir ao meu amigo para me emprestar o notebook dele pois tem webcam embutida. Aí você poderá me ver, tá?
          Começou assim a minha nova etapa de luta para atingir meu objetvo: conquistar o homem da minha vida! 

terça-feira, 21 de setembro de 2010

THEODORO


          Theo era um pai ocasional. Tinha orgulho em dizer que tinha seis filhos, mas não cuidava de nenhum. Pegava alguns de vez em quando para passear. Levava à praia e devolvia para as respectivas mães. Não havia compromisso com a educação, a escola, o amor, a atenção que uma criança precisa para crescer saudável e feliz! Também não havia compromisso financeiro, pois para um cara que não tem estudos, não ganhou na loteria e não nasceu em berço de ouro, fica difícil sustentar seis filhos, né!!! É compreensível!!!! Mas é óbvio que eu não sabia de nada disso. Só muito tempo depois eu soube da verdadeira face de Theo!
          Theo ia levando sua vidinha ao lado de Sandra. Ela, tentando engravidar de todas as maneiras, pois acreditava que a gravidez faria Theo esquecer as outras e ficar só com ela. Mas ela não conseguia. Engravidava e perdia os bebês. Vários abortos, como ela mesma me contou certa ocasião.
          Theo continuava sua vida sexual incansável! Muitas vezes, saía de casa num dia, deixava Sandra esperando ele voltar e só aparecia dias depois. Transava com todas as mulheres que ele conseguia conquistar. Não havia e nunca houve, nenhum padrão de beleza, cultura, raça, ou qualquer outro. Ele saía com qualquer uma. Podia ser parente daquela que o acolheu, como ocorreu em certa ocasião. Sandra descobriu que Theo havia transado com sua tia! Pasmem! Mas eu disse: NÃO HAVIA CRITÉRIOS!
          Mas havia uma característica interessante nas mulheres com quem Theo se relacionava. Não nas mulheres com quem ele transava, pois ele transava com qualquer uma mesmo! Mas as mulheres com quem ele mantinha algum tipo de relação, por menos duradoura que fosse, tinham algo em comum: eram gordas! As mães dos seus filhos eram todas gordas! Sandra, era gorda! Um homem sarado, magro, que só se relacionava com mulheres gordas. Pode até parecer normal, mas para Theo esse detalhe era muito especial. Era esse detalhe que dava a ele o poder! Ele era o “presente” para essas mulheres gordas, de auto estima baixa, que assim, viam nele um verdadeiro deus do amor!
          Havia também o irmão de Jandira, Julio. Ele era gay e, assim como as outras, apaixonou-se pelo encantador Theo. Brigas horríveis aconteceram entre ele e a irmã, por causa de Theo. O ciúme que ambos sentiam, afastou os irmãos e Theo, continuou entre os dois. Se Theo mantinha um relacionamento com Julio ou não, eu nunca tive certeza, mas os indícios dizem que sim.
          Theo é um homem quente! Ama fazer sexo e faz bem! Sua paixão, assim como muitos outros homens, é o sexo anal. Mas esse pequeno detalhe não condena Theo ao homossexualismo ou ao bissexualismo. Seu lema é: “Para que vou sair com um viado se posso ter tudo com uma mulher?”
          Essa frase eu ouvi muitas vezes de Theo. Ouvi muitas vezes ele me dizer que eu o completava em tudo e por isso, ele não tinha nenhuma necessidade de procurar outra mulher. Dessa vez, eu garanto que ele mentia! Mas isso foi muito depois, quando saímos do virtual. Antes, muita coisa aconteceu....

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

HISTÓRIAS DA VIDA

Se eu consegui dormir direito, é um caso a parte. Eu estava desempregada naquele momento. Não tinha hora para acordar e passei quase a manhã toda rolando na cama, pensando que a hora não passava para que chegasse logo o momento de Morena ir trabalhar para que eu pudesse conversar com ele no MSN e voltar ao nosso “jogo”.
          O dia se arrastou, mas a hora chegou! Quando Theo entrou no MSN, eu já estava on line há muito tempo. Aguardava ansiosa pela sua chegada e quando aconteceu, foi um turbilhão se emoção! Assim começou o jogo! Logo que me viu, ele disse:
_ Oi amor! Passei o dia todo pensando em você!
_ Nossa! Nem acredito que você chegou! Eu também passei o dia inteiro pensando em você! Que loucura! Isso nunca aconteceu comigo!
_ Como foi seu dia?
_ Normal, sem muitas novidades. E o seu?
_ Recebi uma ligação chamando para uma entrevista de emprego amanhã. Tomara que dê certo, pois não agüento mais essa situação de estar desempregado.
_ Vai dar certo! Tenho certeza! Acredite e confie em Deus que tudo dará certo! Estarei aqui rezando por você!
          Éramos dois desempregados. Mas no dia seguinte, Theo conseguiu o emprego para o qual foi chamado para a entrevista. Começaria a trabalhar na segunda-feira.
          Eu fiquei feliz por ele! Afinal, as coisas começavam a dar certo para ele. Logo começariam a dar certo para mim também e quem sabe, né? Era o que eu pensava. ...
          Os dias e as noites começavam a se confundir para mim. Eu passava o dia, a tarde, a noite e às vezes até a madrugada na internet com Theo. Conversávamos sobre tudo. Minha vida, a vida dele e começávamos a fazer planos para o futuro.
          Contei a Theo que eu estava desempregada, mas era pensionista e recebia do meu pai uma pensão muito boa, mas nesta época, eu tinha muitas dívidas e empréstimos e como estava desempregada, não sobrava muito dinheiro para mim. Contei a ele dos meus dois casamentos frustrados e dos relacionamentos homossexuais com Luana e Morena. Falei tudo da minha vida. Falei dos meus filhos, dos meus sonhos, das minhas frustrações e das minhas conquistas.
          Aos 40 anos de idade, às vezes tenho a impressão de que meu cérebro não evoluiu com a maturidade e que ele ainda “pensa e age” como se eu fosse uma adolescente de 18 aninhos. Inocente, que acredita em todos e acha que todas as pessoas do mundo são boazinhas. Que a maldade é coisa dos filmes de ficção, terror, serial killer, etc. Talvez essa minha “juventude fora de época” me ajude a ser uma pessoa alto astral, mas tenho consciência de que ela me coloca em muitas armadilhas da vida.


          Sempre fui uma pessoa desprendida de coisas materiais. Adoro comprar, principalmente presentear as pessoas, nunca juntei um real, sempre trabalhei desde os 18 anos de idade e com a pensão deixada pelo meu pai, eu tinha uma vida financeira privilegiada. É uma pensão razoável, que deixaria qualquer mortal racional bem de vida, mas eu sou quase irracional no que se refere a dinheiro. Gasto o que tenho e o que não tenho. Pago tudo para todos quando tenho. Não guardo nada e jamais valorizei o dinheiro. Por isso, quando conheci o Theo eu estava numa situação financeira ruim. Com muitas dívidas e empréstimos a pagar.
          Mas em relação à vida que ele tinha em Salvador, eu tinha uma vida de rainha! Morando numa linda casa, que não era minha, era da minha irmã, alugada para mim. Eu tinha tudo o que eu precisava para ter conforto dentro de casa. Tinha uma vida regada a muitas festas. Muitos amigos. Uma vida social agradável e bastante agitada. Eu era muito interessante para ele.
          Ele também me contava sobre sua vida. Me disse que foi pai ainda muito novo, quando fez sexo com uma menina, Catia, que morava em sua casa e ela acabou engravidando. Não havia amor por ela, é claro, pois ele nunca soube o que é amor, mas ele assumiu a criança(Clarice), registrou e continuou se relacionando com  Catia. Mas logo ela percebeu que ele não a amava e ele nunca escondeu isso, como ele mesmo disse. Então ela se relacionou com outros homens e engravidou novamente. Dessa vez, ele não era o pai, mas assumiu, registrou e passou a ser o pai desse menino, Claudio. Nesse meio tempo, Theo conheceu outra mulher. Mais uma com a qual se relacionou e engravidou também. Mais um filho. Dessa vez, um menino. Bruno! O menino era muito parecido com Theo e por isso, era seu xodó. Em relação à mãe dele, nada significava para Theo. Apenas mais um sexo ocasional.
          Quando não tinha com quem transar,” Theo comia em casa mesmo”. E assim, mais uma vez, Catia engravidou. Dessa vez, ao que tudo indica, o bebê era de Theo. Ele registrou a menina que recebeu o nome de Tatiana.
          Theo era um mulherengo! Todo mundo sabia disso e ninguém podia negar! Ele era macho! Adorava mulheres! Transava com todas que aparecia! Não usava preservativos, pois ninguém gosta de “chupar bala com papel”, né? Então Theo conheceu Jandira. Nada de paixão, mas ela estava lá, disposta a se entregar a ele e apaixonada. Ele era apaixonante mesmo. E mais uma vez, uma gravidez. Jandira deu a luz a Joana. Uma menina linda, encantadora e inteligente, da qual eu falarei mais tarde!
          A lista dos filhos e mulheres parece infinita. Theo registra os filhos, assume e diz que é pai. Mas jamais teve uma “atitude” de pai. Não vivia com seus filhos e muito menos com as mães de seus filhos. Eram todas pobres e não tinham nada a oferecer a ele. E foi aí que ele conheceu Sandra!
          Sandra era independente. Não tinha estudos, não era rica, mas trabalhava e tinha sua casa alugada, onde morava sozinha. Não tinha filhos nem marido. Quando conheceu Theo, logo se apaixonou. Coisa banal para ele. Todas se apaixonavam! Mas dessa vez foi um pouco diferente. Essa mulher podia oferecer algo a ele. Ele estava de shorts e camiseta, chinelo e sem nada mais. Havia brigado com sua mãe e não tinha onde morar. Sandra prontamente o acolheu. Levou ele para sua casa e lhe deu tudo: sexo, cama, comida, carinho. Deu a ele um lar!
          Mas Theo já estava de olho em outra. E seu “vício” era incontrolável! Theo queria Melissa! Essa sim, era bonita, inteligente, filha adotiva de uma família que tinha melhores condições de vida. Marina era muito melhor do que as outras! E ainda era virgem! Perfeito!
          Theo insistiu, paquerou, cortejou e Melissa acabou cedendo a ele. A consequencia todos podem imaginar: mais uma gravidez! Nasce Matheus! O caçula de Theo, até os dias de hoje.... pelo que eu saiba, né!
          Melissa não aceitava a vida que Theo queria propor a ela. Ela era uma menina estudiosa e que sabia o que queria da vida. Theo não tinha nada a lhe oferecer. Não estudava, não gostava de trabalhar. Vivia ás custas de Sandra e entre as constantes brigas das mulheres apaixonadas por ele, que se “pegavam” aos tapas na rua por causa dele. Melissa queria um homem que lhe desse valor, que a amasse e ele estava longe de ser esse homem. Então ela o maltratava, o humilhava e ao mesmo tempo em que queria muito ele, ela o empurrava para longe porque sabia que ele só a faria sofrer. Melissa, estudante de Psicologia, era a única que sabia exatamente quem era Theo: um homem doente; um psicopata!

domingo, 19 de setembro de 2010

ALMAS GÊMEAS


         
          Sou uma pessoa formada de 90% de emoção e 10% de razão, se é que chega a isso tudo! Sou muito emotiva, sentimental e uma romântica incurável! Esses fatos tornavam esse momento mágico! Eu me sentia atraída por um homem que eu nunca havia visto, que eu nem sabia se existia mesmo, e que, em último caso, não podia nem ter certeza de que ele era mesmo um homem. A foto dizia que sim, mas como ter certeza? Tudo isso me excitava. Eu estava enlouquecendo de tesão e de ternura por aquele desconhecido que me encantava com suas palavras bonitas, um carinho distante mas que me fazia sentir na pele. Umas palavras digitadas num teclado de computador, mas que soavam aos meus ouvidos com um sotaque baiano como se ele estivesse ao meu lado, sussurrando em meus ouvidos. Sentia um turbilhão de emoções e, para finalizar, ele disse aquilo que eu precisava escutar para ter a certeza de que tinha encontrado ali, o homem da minha vida:
_É incrível o que eu estou sentindo por você. Parece que nos conhecemos de outras vidas. É muito forte!     
          Bingo! Ele acertou em cheio. Contratou o cupido de mira perfeita. Minha crença em vidas passadas e na reencarnação sempre me levou a sonhar com a minha “outra parte”. E ali estava ele. Um desconhecido, mas que com toda certeza, havia chegado em minha vida não por acaso, mas por um motivo muito especial: era ele a minha alma gêmea!
          Theo me contou de sua crença no espiritismo, disse que era do Candomblé e que sabia das “coisas do espírito”. Falou dos orixás, das raízes africanas, da dança afro e das coisas da Bahia. Enquanto ele falava, minha mente viajava em toda essa história, pois eu sempre senti o sangue negro fervendo em mim e tudo o que diz respeito à raça negra, seu sofrimento na época da escravidão, sua luta para conseguir ser tratado como “gente” depois da abolição, sua guerra contra o preconceito racial que insiste em nos atormentar mesmo que veladamente até hoje, me comove, me emociona demais e me faz sentir um enorme orgulho pelas raízes negras que todos nós, brasileiros, temos.
          O dia amanhecia e eu precisava (mas não queria) dormir. Combinamos de nos encontrarmos no dia seguinte no MSN e no jogo de buraco. Fizemos alguns planos e algumas promessas. Coisas sem muita importância, mas que marcava o início de uma longa e intrigante história: minha história de amor por um psicopata!
          Dormi pensando nele e sonhando poder encontrá-lo algum dia e viver com ele uma nova história de amor. E pensava, com a mesma certeza de que meu nome é Marina, que se depois de quase dez anos, Deus estava colocando este homem em minha vida, era porque ele era uma pessoa especial, com certeza era a minha “alma gêmea” e era com ele que eu viveria a mais intensa história de amor da minha vida. Esta que estou te contando agora.... mas que infelizmente, não foi a história de amor que eu sonhei, mas sim uma história de dor.... muita dor....

sábado, 18 de setembro de 2010

A conquista

          Logo que viu minha foto ele disse que eu era linda. Um homem que sabe como deixar uma mulher caidinha. Ele me elogiava e ao mesmo tempo, me sondava. Começou perguntando se meu marido não se importava que eu ficasse até aquela hora da madrugada(já eram quase 2 horas) conversando no MSN. Queria me testar, para ver se eu dizia que era casada. Mas eu, mais uma vez, falei a verdade. Eu disse a ele o que eu já havia dito antes,  que não tinha marido. Não era casada. E aproveitei para dizer que isso não significava que eu era sozinha.
          Então, como sempre gostei de usar a sinceridade,  contei a ele sobre Morena. Disse a ele que eu vivia uma relação homossexual. Mas para minha surpresa, ele imediatamente disse que sua ex namorada era homossexual e que ela havia terminado a relação para ficar com ele, mas que depois voltou com a namorada e ele estava sozinho. Disse que não tinha preconceitos e que sabia que eu era a “mulher” na relação pois eu não tinha nenhum traço que me identificasse como “sapatão”. Disse que eu era linda, feminina e que gostaria muito de poder ter uma “chance” comigo.
          Contei a Theo que eu não estava bem nesta relação com Morena. Disse a ele que eu não estava feliz, mas que não sabia como acabar com isso, pois ela havia largado tudo que tinha para vir morar comigo e eu me sentia meio responsável. Não sabia como terminar essa relação e que por isso, vivíamos em pé de guerra. Morena era muito ciumenta e, por mais que eu não fizesse nada, ela não sabia se controlar quando bebia. Eu não tinha mais nenhuma paciência com ela e nossa vida havia virado um inferno.
          Há muitos anos que eu não tinha nenhum tipo de relação com homens. Um ano antes de conhecer Morena, eu havia “ficado” com um cara, mas não passou dos beijos. E quando minha relação com Morena começou a desabar, eu conheci um negro por quem me senti muito atraída, mas também não tive coragem de ceder aos seus insistentes telefonemas me chamando para sair. Os motivos foram vários: não queria magoar Morena, não estava apaixonada por ele, não me sentia segura de ir para a cama com um homem e principalmente, estava gorda! Nem passava pela minha cabeça ficar nua na frente de homem algum.
          Contei tudo isso ao Theo. E disse a ele que depois de nove anos sem me relacionar com um homem, não sabia nem se haveria “espaço” para uma penetração. E a conversa esquentava à medida em que a noite ia deixando de ser noite e o dia vinha trazendo seus primeiro raios de luz. Estava quase amanhecendo e a conversa parecia ficar mais agradável a cada minuto que passava. Falamos de tudo e principalmente das coisas que gostaríamos de fazer naquele momento.
         Comecei, junto com Theo, a tecer a vida que eu sonhava ter com um GRANDE HOMEM ao meu lado. Minha imaginação trabalhava uma linda história de amor, que começava com as “mãos de Deus” me colocando frente a frente com o homem mais valente que eu já havia visto em toda a minha vida. O verdadeiro príncipe negro dos meus sonhos. Um homem que não se importava se eu estava gorda ou não, que não pensava em aparência física, nem em dinheiro, status ou qualquer coisa parecida. Estava ali, diante da telinha do meu computador, do outro lado do meu amado Brasil, um homem que sabia valorizar uma mulher. Sabia que o maior valor está no que somos e não no que representamos. Sabia que uma mulher precisa de carinho, respeito, companheirismo, fidelidade e amor. E era tudo isso que ele estava disposto a dar àquela que conseguisse conquistar seu pobre e sofrido coração. E eu havia tirado a “sorte grande” ao entrar no “JOGO”. Eu era essa mulher! A mulher que iria amá-lo como jamais amou alguém em toda a sua vida e que por ele, iria até o inferno! Literalmente!

O JOGO CONTINUA


          A conversa começou a seguir para o lado pessoal. Ele me perguntou minha idade. Eu sempre conheci pessoas na internet e jamais menti sobre nada. Sempre falei a verdade e esta ocasião não fugiu à regra. Disse a ele que tinha 40 anos e dois filhos. Ele me perguntou se eu era casada. Respondi com a verdade, omitindo o fato de que eu vivia uma relação homossexual com Morena e que ela morava comigo. Quando comecei a perguntar sobre ele, ele falou sua idade, que era a única verdade, e depois começou a mentir. Mas é claro que eu nem imaginava uma coisa dessas, pois como eu sempre falava a verdade, achava que todo mundo era igual a mim e que não mentiria também. Doce ilusão.
          Estávamos em novembro de 2008, Theo estava com 32 anos. Disse que era solteiro e que dividia uma casa com um amigo. Contou que morava em Salvador, que era capoeirista, que dava aulas de dança afro e que tinha cinco filhos.
          Cinco filhos!!!!! Isso me assustou! Eu logo pensei: “ como um cara tão novo tem tantos filhos? Como sustentar cinco? Educar e dar escola, casa, comida a todos eles”? Imaginei que isso seria uma missão quase impossível... Tenho dois filhos e sei bem o que passei para educá-los e dar a eles o mínimo de conforto possível para que eles crescessem saudáveis e fora das tentações deste mundo tão complicado e tão cheio de armadilhas para os adolescentes.
          Mas logo entendi que nem tudo é como a gente pensa.  Nem todas as pessoas que são pais ou mães, são pais e mães “de verdade”. Ele era apenas o pai. Deu seu nome a essas crianças e lá, no registro de nascimento, dizia que ele era o pai. Isso para ele bastava! Havia quatro mães para pensar no sustento dessas cinco crianças. E ele ainda havia perdido um filho num acidente de carro. Neste caso, ele teria seis filhos com 32 anos. É muita coragem! Ou muita falta de responsabilidade, não é mesmo?
          Depois de algumas horas de conversa pelo site, nos adicionamos no msn. Mas antes, eu tive que falar daquilo que mais me incomodava nos últimos anos.: meu peso.
          Há anos eu vinha engordando sem parar. Precisamente, desde que me separei do meu último marido, pai do meu filho caçula, Leo,  eu engordei cinqüenta quilos. Quase dobrei de peso e com certeza, não cresci para que o peso e a altura estivessem em equilíbrio.  Então, nesta época eu era uma mulher baixa e gorda. Não digo feia, pois (como todos dizem) tenho um rosto bonito, lábios carnudos, olhos verdes, nariz pequeno, mas bonitinho, enfim, era uma gordinha interessante, além de inteligente e boa de papo. Mas homens gostam de mulheres magras! E essa foi uma das razões para que eu me afastasse deles.
          Mas para minha surpresa, o Theo era um homem diferente! Pelo menos era o que ele dizia. Apesar de ser sarado, capoeirista, atleta, quando eu falei que era gordinha ele disse: “Adoro gordinhas! Aqui onde moro sou famoso por namorar só mulheres gordinhas. Todas as minhas ex são gordas”.
          Nossa! Imagine como eu me senti! Na mesma hora adicionei ele no MSN. Um cara legal, bom de papo, jovem, interessante, negro (minha verdadeira paixão) e que ainda gostava de gordinhas! Pensei que eu havia ganhado na loteria! Era tudo que eu precisava naquele momento. Só tinha que agradecer a Deus por estar colocando esse homem na minha vida! O homem dos meus sonhos, que transformaria a minha vida num grande pesadelo.... 

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Jogando com a vida!

Jogando com a vida

          Sempre gostei de jogar. Desde criança, os jogos me fascinam. Mas sempre joguei para ganhar. Nunca aceitei perder. Por isso sempre levei os jogos a sério. Nem brincando, eu levava o jogo na brincadeira. Joguei na infância, na adolescência e aprendi a jogar de tudo um pouco, sempre com muita perseverança e muita vontade de vencer. O desafio me excita e os jogos me fascinam. Mas esta foi a primeira vez que eu joguei com a vida. Um jogo que não era brincadeira. Mas que também não foi 100% real.
          Eu vivia uma relação amorosa complicada, aos 40 anos, com 2 filhos praticamente adultos, vivendo há dois anos com uma mulher. Era meu segundo casamento homossexual. Antes de morar com Morena, vivi durante quase cinco anos com Luana, mas essa é uma outra história que contarei em outra ocasião.
          Minha relação havia se esgotado. Não havia mais respeito, nem amor, nem paixão. Havia um grande carinho que eu sentia por Morena, amizade, mas as constantes brigas por causa de coisas banais haviam acabado com tudo de bom que um dia existiu entre nós duas. Foi nesta época que conheci o Theo. Theodoro era seu nome. Um negro baiano de Salvador com quem vivi os momentos mais marcantes da minha vida.
          Eu evitava deitar na hora em que Morena ia para a cama. Não me sentia mais feliz ao seu lado e quase tudo me incomodava. Então eu sentava frente ao computador e começava a jogar. Jogava buraco, quase todas as noites. Sempre jogava em dupla e fiz muitos amigos neste site. Alguns sumiram no mundo virtual. Outros, me acompanham até hoje. Uns eu conheci pessoalmente. Outros, nunca vi nem a foto, só mesmo o avatar.
          Eu havia terminado um jogo e tinha perdido. Resolvi tentar ganhar de alguém, pois detestar perder é uma característica que carrego impregnada em meu ser. Então eu vi aquele avatar de um negro com cabelo rastafári. Ele esperava alguém para jogar. Seria um jogo a dois, não em dupla, como eu estava acostumada a jogar. Resolvi sentar à mesa e ganhar dele.
          Começamos a jogar e eu, sempre muito comunicativa, não parava de falar. Conversamos sobre banalidades. Rimos bastante, pois ali, sentados àquela mesa, havia duas pessoas que não gostavam nem um pouco de perder. Um queria ser melhor do que o outro. E assim, jogamos várias partidas até de madrugada. Incansavelmente.
          A conversa começou a seguir para o lado pessoal. E ele me perguntou minha idade. Eu sempre conheci pessoas na internet e jamais menti sobre nada. Sempre falei a verdade e esta ocasião não fugiu à regra. Disse a ele que tinha 40 anos e dois filhos. Ele me perguntou se eu era casada. Respondi com a verdade, omitindo o fato de que eu vivia uma relação homossexual com Morena e que ela morava comigo. Quando comecei a perguntar sobre ele, ele falou sua idade, que era a única verdade, e depois começou a mentir. Mas é claro que eu nem imaginava uma coisa dessas, pois como eu sempre falava a verdade, achava que todo mundo era igual a mim e que não mentiria também. Doce ilusão!!! Começava aí, uma rede de mentiras e ilusões. Mentiras nas quais acreditei cegamente, envolvida pela sedução de um psicopata!