domingo, 26 de setembro de 2010

Quando os olhos cegam

          Filha de baiano, tenho parentes em Valença e, quando meu pai morreu, deixou um terreno que jamais nos preocupamos em procurar, vender, doar ou qualquer coisa parecida. Mas nesse momento, o terreno que meu pai havia deixado de herança, era tudo que eu queria! Afinal, se eu fosse à Valença, eu iria encontrar o meu amor! Plano perfeito! Pedi ajuda ao meu filho Paulo e tudo começou a tomar forma!
          Meu filho concordou com a minha ida a Bahia e disse que me ajudaria. Não menti pra ele. Contei a verdade sobre Theo. Acho que ele até gostou, afinal, eu estaria me relacionando com um homem! Morena ainda vivia em minha casa, mas desde que eu havia me apaixonado pelo Theo, não havia mais nada entre nós. Antes, a relação já estava desgastada. Mas agora, com o amor gritando em meus poros, não havia a menor possibilidade de eu voltar atrás. Eu já havia dito a Morena que o melhor era cada uma ir para o seu lado. Mas ela resistia e fazia de tudo para me reconquistar. Talvez não tenha feito o suficiente. Talvez, nada que ela tivesse feito, mudaria minha decisão. Isso eu jamais saberei. Só posso dizer que, de uma forma muito desagradável, Morena foi embora.
          Morena havia colocado um espião em meu computador e eu nem sonhava com isso. Ela lia todas as minhas conversas com Theo. Sabia de tudo! Dos nossos planos, nossas juras de amor, nosso sexo virtual. Ela sofria calada na esperança de conseguir me reconquistar. Mas um dia, depois de passar o dia todo bebendo, Morena chegou em casa e me viu no computador, jogando, e achou que eu estava com o Theo. Na verdade, eu estava jogando com pessoas desconhecidas. Theo não estava on line nesta noite! Mas ela não acreditou, brigamos, ela me agrediu, bateu em meu rosto, quebrou meu dente.... e assim terminou nossa relação. Com uma cena horrorosa de agressão, dor, sofrimento e tristeza!
          Estávamos em janeiro. Havia três meses que eu e Theo nos conhecíamos e nos falávamos todos os dias. Nossos planos de eu ir a Bahia foram por água abaixo quando eu consegui um emprego. Fui chamada para lecionar em uma escola. Fiquei muito feliz! Mas ao mesmo tempo, fiquei triste, pois eu e meu filho Paulo, já havíamos planejado nossa viagem para Salvador e eu não via a hora de poder estar pessoalmente com meu amor!
          Comecei a trabalhar, mas não perdi de vista meu objetivo. Eu havia decido que iria conhecer esse homem pessoalmente e nada nem ninguém mudaria a minha cabeça.
          Theo me disse que estava procurando uma casa para alugar. Disse que até o dia de eu ir a Salvador, ele pretendia já estar morando em outra casa, sozinho, sem o “amigo” com quem ele morava. Antes, ele havia dito que ele não poderia me receber na casa dele porque ele morava com um “amigo” e o combinado entre eles era não levar nenhuma mulher para a casa deles, para que não virasse bagunça.
          Eu disse a ele que não se preocupasse, pois eu ficaria hospedada em um hotel. Assim, nossos planos começavam a tomar cor. Eu havia descoberto uma maneira de ir a Salvador, mesmo estando trabalhando: eu iria no carnaval!
          Mas bem antes do carnaval, estávamos no MSN, como sempre na webcam, à noite, conversando, jogando, namorando.... quando de repente, passa uma mulher atrás de Theo. Uma mulher totalmente descabelada, feia, muito gorda. Ela levantou-se não sei de onde e passou atrás dele. . .  seguindo em direção à escada e descendo. Me assustei! Imediatamente perguntei a ele quem era aquela mulher:
 _ Que mulher, rapaz? (eu odiava esse jeito que os baianos têm de nos tratar. Não gostava quando ele me chamava de rapaz e já havia dito isso a ele, mas era costume do povo de lá. Acabei entendendo)
_Passou uma mulher toda descabelada atrás de você, amor!
_Ah, sim.... Era a namorada do meu amigo. Por isso que eu estou saindo daqui. Porque a gente combinou uma coisa e ele não está cumprindo.
          Mulher apaixonada acredita até em coelhinho da Páscoa! E como eu jamais poderia fugir à regra, acreditei!
          Theo começou a procurar uma casa para alugar. Disse que ia alugar e arrumar a casa antes do carnaval, para que eu pudesse ficar hospedada na casa dele. Minha alegria não poderia ser maior, mas eu não dizia isso a ele. Eu dizia a ele que eu queria passar a primeira noite em um hotel e que depois, eu até poderia ficar na casa dele.  Então ele alugou a casa, finalmente! Disse que ia pintar antes de eu viajar, pois queria me dar algum conforto. Disse também que ele não tinha nada. Teria que comprar os móveis para a casa pois quando ele foi morar com o “amigo”, ele só levou o computador e a TV. O resto era do “amigo” dele.
          Comecei a me preparar para a viagem. Olhava o preço das passagens todos os dias. Tentando encontrar o melhor preço para poder comprar. Queria estar linda para o meu amor. Comecei a fazer dieta e a caminhar. Voltei a freqüentar a hidroginástica. Fiz um orçamento no dentista e comecei um tratamento dentário relâmpago! Parei de fumar! Fiz clareamento nos dentes! Cuidei dos cabelos, das unhas, sobrancelhas. Fui à praia mil vezes para pegar um bronze e, outras vezes, me queimava no quintal. Eu precisava ficar morena! Deu certo! Fiquei linda! Auto estima lá em cima, estava feliz demais! Não via a hora de estar nos braços daquele homem!
          Enquanto o dia não chegava, eu ouvia as músicas de Maria Rita e sonhava acordada, imaginando nós dois em suas cantigas....
“ ... SE ESTIVER ACOMPANHADO ESQUECE E VEM! SE TIVER HORA MARCADA, ESQUECE E VEM! VENHA VER A MADRUGADA E O SOL QUE VEM! QUE ESSA NOITE NÃO É NADA MEU BEM”...
“... FUI A PÉ A SALVADOR, DE JOELHO AO REDENTOR, PRA VER NOSSO AMOR ABENÇOADO.... NESSA ONDA DE CALOR, EU ATÉ PEGUEI UMA COR, TO COM O CORPO TODO BRONZEADO...”
          Passei a sonhar ao som de “Silvano Sales, o cantor apaixonado”, de quem eu jamais ouvira falar antes, mas que o meu amor me mandou. Ele cantava umas músicas bregas, tipo sertanejas, que até então, eu ODIAVA! Mas é aquela velha história da paixão que nos cega e nos faz fazer coisas que jamais imaginávamos. E lá estava eu, cantando essas músicas tão bregas, que meus amigos estranhavam e, nas poucas vezes em que eles vinham a minha casa, pois a esta altura eu não tinha mais tempo para eles, eles achavam que eu estava enlouquecendo! E estava! Mas eu não sabia!

1 comentários:

Fulvio Ribeiro disse...

Olá...
Que historia hein, li tudo sem piscar...
estou seguindo seu blog e, quero saber como vai se desenrolar isso tudo.
Grande abraço.

Postar um comentário